Manifestação artística que surge no final da década de 60, a Land Art, sempre utilizou-se do meio ambiente e de espaços e recursos naturais para que essas obras, muitas vezes monumentais, acontecessem. De caráter efêmero na maior parte das vezes, os criativos de Land Art, interferiram na paisagem, desenharam grandes linhas sobre a terra, empilharam pedras e outros materiais e registraram essas ações em Foto e Vídeo, eternizando-as. Para Jean Paul Ganem, que propõe a obra “Camadas”, nesse primeiro Jardins Comestíveis “Land Art são práticas artísticas contemporâneas que consistem em trabalhar com a natureza ao invés de simplesmente a representá-la”. Considerando o contexto histórico, o final dos anos 60 foi um momento de convulsões sociais e comportamentais. Ambiente propício para uma atitude de protesto em massa. Instituições como os museus, o mercado da arte, as galerias e a educação clássica foram profundamente questionadas. Não foram poucos os artistas que resolveram abandonar as belas artes e os valores a ela ligados: qualidades estéticas, preciosidades do objeto da arte, hierarquia dos gêneros artísticos, motivados pelos desejos de quebrar as “fronteiras” tradicionais. Dessa forma, a pintura extrapola a moldura, a escultura se expande para instalações, a arte deixa os estúdios e ateliers e flerta com o corpo através das performances, que invadem ruas e todos os tipos de lugares, com espetáculos, instalações e intervenções ao ar livre. Tudo passa a ser questionado e para alguns isso aproxima a prática artística do campo social e político, afinal a obra não deve continuar a ser um objeto com valor de mercado, mas uma experiência verdadeira ligada ao mundo real. E o processo criativo passa a ter precedência sobre o produto acabado. Toda essa transformação conduz a criação de obras efêmeras, das quais, foto e vídeo, desempenham um papel preponderante para o seu registro e permanência. Esse é exatamente o caso da Land Art, que com suas intervenções quase sempre de caráter temporário e na natureza, dependem fundamentalmente dos registros imagéticos para manterem memória e acervo de suas ações.
Veja a seguir alguns trabalhos na fronteira entre a escultura e a arquitetura:
Michael Heizer. Em 1969, produziu a obra “Double Negative” na região desértica do Nevada, nos Estados Unidos. Constituída por duas trincheiras gigantescas de várias dezenas de metros de comprimento, formadas pelo deslocamento de 240.000 toneladas de terra de cada lado de uma encosta.
Alguns artistas introduzem elementos não naturais na paisagem para a redesenhar
O mais conhecido é Christo, que faleceu em 2020. Famoso por seus gigantescos invólucros de tecido, como por exemplo, os que contornaram com um anel de tecido cor-de-rosa ilhas da Flórida na obra “Surrounded Islands” em 1983.
https://christojeanneclaude.net/artworks/surrounded-islands/
Outros artistas mostram interesse em elementos naturais tais como a luz, o relâmpago, ou o movimento das estrelas, caso do americano Walter De Maria, 1935. Ele desenhou no céu com um raio, colocando num rectângulo de um quilómetro por 1,6 km 400 postes de aço entre 4,57M e 8,15 para que os topos estivessem à mesma altura, atraindo o raio de forma aleatória na obra que se chama “Lightning Field”, de 1977 e realizada no Novo México.
Muitos deles fazem observatórios:
Nestas obras a paisagem natural é escolhida por razões funcionais: para criar uma nova forma de escultura, que possa ser percorrida a pé e que cumpra uma função. James Turrell trabalha principalmente com luz – compra uma cratera vulcânica extinta e constrói lá um observatório astronômico “Cratera de Roden”.
Robert Morris constrói um ‘Observatório’ ao nível do solo, que ele chama de uma ‘máquina de ver’ que capta o caminho do sol.
https://www.landartflevoland.nl/en/land-art/robert-morris-observatorium/
A americana Nancy Holt também cria um observatório com meios mais básicos
Em “Sun Tunnels”, ela coloca cilindros na extensão plana do deserto, onde os raios solares se aninham durante os solstícios de Verão e Inverno; ela faz do sol um parceiro na sua criação.
https://holtsmithsonfoundation.org/sun-tunnels
Outra figura muito importante da Land Art é o americano Robert Smithson. Ele é o teórico dessa expressão que diz que a prática artística atua na transformação dos territórios. Segundo ele, a arte pode tornar-se um intermediário entre a ecologia e a indústria. Deve dizer-se que nessa altura, vastos territórios foram poluídos sem precaução, e os artistas reinvestiram neles.
Robert Smithson fez algumas das obras mais impactantes da Land Art, como por exemplo a Spiral Jetty:
Caso você queira apreciar mais obras do artista Jean Paul Ganem, autor de Renda Guaianás, nesse primeiro Jardim Comestível, acesse o site dele aqui: www.jpganem.com